Jorge Palma é hoje um fenómeno de popularidade, seja com temas como "Bairro do Amor", "Deixa-me rir" ou "Frágil", seja mesmo de vendas, com o sucesso que foi "Encosta-te a mim".
Mas não foi sempre assim. Levou tempo para que o reconhecimento viesse, sobretudo do grande público.
Jorge Palma, depois da aventura inicial que foi o grupo Sindikato e experiências como a do single de estreia, "The Nine Billion Names Of God", arranjou sempre tempo para colaborar com muitos músicos (de Tonicha a Fernando Girão/Very Nice, passando por Amália Rodrigues), nos anos 70. Quer enquanto orquestrador e director musical, quer ao nível dos arranjos, quer enquanto produtor e, também, músico.
Em 1975, grava o seu primeiro LP, "Com uma viagem na palma da mão", seguindo-se "'Té Já" (1977).
Depois é tudo o que se conta e Palma nos sabe, também, deliciar com as memórias de cantar no Metro de Paris (o que levou o Metropolitano de Lisboa a organizar, recentemente, um concerto na estação do Cais do Sodré), não sem antes ter passado por Brasil e Espanha, gravando, já em Portugal, o 3º álbum de originais, "Asas e penas".
Quando finalmente é hora de editar o duplo "Acto contínuo", Jorge Palma regressa uma vez mais de Paris, encontrando um país a preparar-se para o rescaldo do "boom" do rock português.
Daí que não seja de estranhar, como se sabe, que tenha igualmente enfrentado as mesmas vissicitudes dos projectos derivados da vertente pop-rock que então grassava, ou seja, pouco tempo para gravar (o álbum foi registado ente 24 e 28 de Maio de 1982!). Porém, ao contrário do que aconteceu a variadíssimas propostas filhas do "boom", o músico não mostra um trabalho desinteressante, apressado ou menos conseguido.
Inicialmente pensado para álbum ao vivo, o material de "Acto contínuo" é gravado em estúdio, por falta de condições técnicas. Há todo um circuito de concertos pelo território nacional que está, então, a emergir e uma especificidade técnica que estaria a dar os primeiros passos em todas as áreas musicais.
E mesmo tendo em conta a excelência de produção (e igualmente notáveis em si) dos álbuns posteriores, como por exemplo "O lado errado da noite" ou "Bairro do amor", Palma acaba por nos legar, neste "Acto Contínuo", um dos seus melhores trabalhos que, passados tantos anos, é sucessivamente redescoberto.
"Acto contínuo" revela um desencanto/inconformismo, postura tão transversal à epoca, da democracia pós-Abril, por oposição ao positivismo de alguém que criativamente havia procurado espaços e culturas diferentes. Esse paradoxo é-nos trazido, respectivamente, por dois temas já referidos, entre o pessimismo de "Portugal, Portugal" e uma esperança (em forma de promessa): "enquanto houver estrada para andar, a gente vai continuar", em "A gente vai continuar".
Ainda bem que assim foi. Agradeçamos às estradas que permitiram ao Palma este e os demais discos.
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Tem nove discos presentes no museu.