O sax não bastou...
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© António Luís Cardoso [2009]
Das bandas resultantes do 'boom', os Sui Generis são dos melhores exemplos desse divórcio entre editoras e música moderna portuguesa em 1982.
É escassa, no entato, a informação sobre esta banda*. Curiosamente, é num comentário a um "post" de Aristides Duarte, no seu blogue (ver "link" nesta página), em 5 de Setembro de 2006, que surgem alguns dados reveladores, por parte de Manuel Rasteiro. Por exemplo:
Fiz muita estrada como técnico de som da banda. A gravação deste single (em 8 pistas)foi uma curtição do mais belo. A ideia era também a edição de um album em vinil mas o projecto ficou-se por uma casete com os temas.
Quando as editoras – que tão avidamente gravaram nas condições mais improváveis qualquer som que soasse a moderno para depois lançarem para o mercado discos e mais discos – perceberam o esvaziar de um filão, já durante o ano de 1982, fizeram aquilo que é comum dizer-se: puxaram o tapete às bandas.
Os Sui Generis que, graças ao sucesso do single "Olha ó meu", fizeram, então, muitos concertos pelo país fora, viram assim goradas as suas intenções de lançarem um álbum. Ou antes, acabaram por o fazer mas não no ambicionado formato em vinil. É neste contexto que temos a cassete, sem nome, homónima, portanto.
No alinhamento da mesma, estão também os dois temas do single.
O som do grupo é curioso, de um rock sem pretensões, onde as guitarras e a bateria marcam o ritmo, destacando-se uma guitarra baixo e os inevitáveis sopros (metais e flautas). Porém, não acrescentou muito ao fenómeno, deixando um conjunto de canções directas e de refrão certeiro, ostentando preocupações sociais e políticas, próprias da rebeldia da juventude e do rock:
Doutor, o sangue do meu filho é energia nuclear.
in "Doutor"
Finalmente, vou ser aquilo que sou
vou viver do modo que sempre quis
libertei-me não tenho qualquer pais
vou dizer não, não, não e não, não e não, não!
apresento a demissão,
apresento a demissão, de hoje em diante
deixo de ser cidadão
in "Rock fatela"
Mas, em 1982, como vimos, as editoras voltaram a fechar a torneira à possibilidade de gravação só porque soava a moderno e/ou cantado em português.
Foi assim que se desvaneceu mais um projecto do 'boom'.
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* Adenda em 2023 – Os Sui Generis são uma banda de Santarém, cujo líder Vítor Fininho (falecido em 2012) era a figura carismática. Aqui ficam as palavras de Luís Godinho, elemento da banda «:
Lembro-me que a semana era passada a correr, na espectativa do próximo sábado de espectáculo, que tanto poderia ser em Viseu, ou logo ali ao lado bem perto de casa, numa festarola qualquer, como quando tocámos com o António Variações, nas festas da Ribeira de Santarém. Foram tempos memoráveis, de viagens em caravana numa cansada Ford Transit, do velho Vasco, carregadinha até mais não de gente e material, e mais o Renault 16, da Elvira, dos jantares previstos no contrato, onde invariavelmente era servido frango com batatas fritas ou batatas fritas com frango, mas sempre muito, lá isso era verdade. E claro, muitas grades de cerveja, que aquilo ia dar para suar. E depois vinha a hora de tocar, e aí é que era. Era ver parzinhos, a dançar o “satisfaction” dos Rolling Stones, com “satisfaction”, pois claro, bem agarradinhos como se o mundo estivesse para acabar. Então fazíamos a música durar durante muitos, muitos minutos, onde as desbundas individuais marcavam presença, sobretudo nos longos improvisos do Vítor Fininho. Ah guitarras, o quanto gemeram….
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Tem um disco e um LP (em formato cassete) presentes no museu.