O Boom: Breve História em dez passos
1. Uma questão de paternidade
Existe uma discussão decorada com algumas barbas, pois contabiliza pelo menos quatro décadas: quando começou o rock português? E já existia antes do famoso “boom” do início da década de 1980?
Um jornalista, António Duarte, colocou e respondeu a tais questões em 19841. Curiosamente, outro Duarte, Aristides Duarte, abordou-as mais recentemente2 e, não menos curiosa, é a sintonia nas conclusões: há, sim senhor, rock português e muito antes do 'boom' e, a existir um responsável para a loucura de 80's bem poderia ser António Manuel Ribeiro (UHF). Isto ao arrepio da generalização de que Rui Veloso foi o pai do "boom" do rock português ('título' que o próprio nunca quis) com o sucesso do seu "Chico Fininho".
Independentemente desta discussão, há algo que se revela incontornável: existe um antes e depois do 'boom', situação que tem reflexos não só na música moderna portuguesa, mas também na generalidade dos sons nacionais que ocuparam as ondas 'hertzianas' (ou agora digitais...) de então e até hoje. Aliás, considero estéril e inútil a discussão de paternidades bem como do presuposto nascimento do rock português em 1980. Até por uma lógica da batata: se houve um “boom”, é porque já havia rock antes. Acontece simplesmente que resolveu, ou antes, resolveram por ele, 'explodir' no início da década de 1980.
UHF – "Jorge morreu"
Rui Veloso – "Chico Fininho"
Interessante é o contexto pelo qual o criador de “Cavalos de Corrida” é apontado como o verdadeiro detonador do 'boom': não por um primeiro mega-sucesso, mas sobretudo face a toda a importância que os UHF têm em 1979, com um EP gravado ("Jorge Morreu") e já detentores de equipamento próprio (que cedem a outras bandas, como os Xutos & Pontapés, por exemplo), 'furando', com concertos, um circuito ainda manietado por outras músicas e sem grandes condições técnicas.
Mas, já antes de 1979 os Tantra haviam esgotado (a primeira vez para uma banda rock portuguesa) o Coliseu de Lisboa... por duas noites consecutivas. E podemos ainda lembrar Petrus Castrus, Quarteto 1111/José Cid, Saga, Pop Five Incorporated, Beatniks, Arte & Ofício, Sheiks, Objectivo ... uns e outros, heróis de um sonho rockeiro nacional.
Em jeito de brincadeira, José Cid dirá: "se o Veloso é o pai, então eu sou a mãe".
1. António Duarte preparava-se para lançar um estudo sobre o rock português até ao fim da década de 1970, quando se deu o fenómeno do boom e acabou por incluí-lo também, resultando no livro: "A Arte Eléctrica de Ser Português. 25 anos de Rock'n Portugal", editado em 1984, pela Livraria Bertrand.
2. Nas várias edições de autor do seu livro "Memórias do Rock Português", bem como através do antigo blog Rock em Portugal ou em diversos artigos publicados.

