O Boom: Breve História em dez passos
5. Entre a inovação e a competência
O projecto claramente mais arrojado arranca (discograficamente falando) quando o fenómeno espoletado por “Chico Fininho” se está a esvaziar. Trata-se, como não podia deixar de ser, de António Variações, quando literalmente abana o pais com “Estou Além/Povo que lavas no Rio”, tanto em versão single, como em maxi-single. Hoje é célebre a sua definição sobre as criações que nos legou: uma música "entre Braga e Nova Iorque". E percebe-se a modernidade que veste o universo carregado de folclore de António, uma dicotomia que o atormenta e apaixona, coroada ainda pela paixão à diva Amália.Nos álbuns continuará um caminho invulgar de criatividade e sucesso: primeiro com "Anjo da Guarda" (tendo elementos dos GNR e dos Salada de Frutas como banda de suporte) e, depois, com "Dar & Receber (sendo aqui seus acompanhantes os Heróis do Mar).
Os Xutos & Pontapés – banda que andava na estrada desde 1978 mas que só lança o 1.º single em 1981 ("Sémen") – estreiam-se no registo em 33 rotações com o mítico e marcante "78-82". O título é revelador da importância da experiência e percurso dos músicos desde a formação, revelando o LP um rock cru, quase filho do movimento punk, com temas como "Leo", "Mãe" ou "Avé Maria".
Porém, falta de inovação não implica necessariamente ausência de qualidade. Em boa verdade, UHF e Roxigénio praticam um rock clássico, com influências mais ou menos claras de The Doors e do hard-rock, respectivamente, mas são projectos de relevância (pese embora o já, por diversas vezes, criticado pouco cuidado da banda de António Garcês quanto ao domínio da língua inglesa no primeiro álbum). Tomemos como exemplo os UHF: logo, como cartões de visita, António Manuel Ribeiro lega-nos temas e álbuns simplesmente notáveis, bastando ouvir “À Flor da Pele” ou “Estou de Passagem” para o confirmar.

